No sítio as quaresmeiras se dobram ao peso de tantas flores - lindas!; as goiabeiras, generosíssimas este ano, perfumam o ar, enquanto seus frutos, no tacho de cobre virando doce, perfumam a cozinha; o verde da mata atrás da casa é luxuriante e as borboletas, variadas, colorem o jardim, lembrando que ainda é verão, o "tempo das águas", como diz a gente do lugar, embora um ventinho frio, soprando pela manhã e à noite já sinalize que o outono vem por aí.
Em estado de contemplação, me pego pensando: qual o custo de uma vida longa? O que vale mais a pena: viver menos tempo na mais completa incontinência, abusando dos prazeres dos sentidos? Ou viver bons anos a mais, usufruindo dos mesmo prazeres com equilíbrio? Escolha difícil... A verdade é que a maioria de nós não tem qualquer pressa de deixar o planeta. Queremos viver muito, porque há - sempre! - 'tanta coisa a fazer, ainda'...
Todos sabemos que o acelerado progresso científico nos acena com uma expectativa de vida maior; isso quer dizer que viveremos mais, mas, não exatamente que permaneceremos jovens por mais tempo. A cirurgia plástica, cada vez mais sofisticada e detalhista, promete maravilhas - e cumpre! Entretanto, só arruma por fora. Por dentro, lamentavelmente, continua o processo, irreversível, de oxidação. E então? Queremos, sim, viver quantitativamente mais, porém, com qualidade, com prazer, enfim, com dignidade.
Está claro, hoje, que isso depende de uma combinação de fatores, uns controláveis, outros não. Segundo estudo conduzido por Jairo Mancilha, cardiologista, e Luiz Alberto Py, psiquiatra, e que virou livro, longevidade tem a ver com genética, fatores ambientais, aspectos emocionais e mentais e alimentação, não necessariamente nessa ordem.
Pois é: assim como os peixes também podemos morrer pela boca. Não por falta de informação. Afinal, na aldeia globalizada em que vivemos é possível conhecer - e experimentar! - hábitos alimentares saudáveis dos mais diversos povos e culturas.
Toda essa conversa vem por conta de uma dieta muito conhecida - e deliciosa! -, que já provou ser possível envelhecer bem, com elegância e capacidade preservadas: a dieta do Mediterrâneo. Mestre Guimarães Rosa disse que "espírito da gente é cavalo que escolhe estrada, quando ruma para o lado da tristeza e morte vai não vendo o que há de bonito e bom". Prefiro fazer outras escolhas. Mais saborosas.
Continua...
Para ler: Mancilha, Jairo & Py, Luiz Alberto. O caminho da longevidade: orientações para uma vida longa e saudável. Rio de Janeiro: Rocco, 2001
2 comentários:
Estamos ficando poéticos hein!!! Guimarães Rosa??? Chiquérrimo! E as considerações sobre longevidade já me fizeram pensar muio, olhando a neve que caiu muito nesse inverno nesta tranquila Makančeva 14, onde moro. O nome da rua (ulica) pretende, se minha preguiça deixar, virar título de livro. Delícia de "post"! Você tem razão: experimentar hábitos alimentares é uma verdadeira enciclopédia existencial!
beijinho
Ei, querido ZéLu! Estou por aqui de passagem, de novo! Adorei seu comentário sobre "ficarmos poéticos", tem que ser, não? Afinal, mestre Guima sabia de muitas coisas e falava delas com encanto particular.
Não vou deixar você ficar com preguiça: vai escrever Ulica, sim senhor! Suas experiências por aí são, no mínimo, curiosas. Haja vista o que lemos no blog. Semana que vem estarei de volta para ficar um tempo e nos falaremos no skype. Bjs
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