segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A armadilha das palavras

(imagem do bing)


Sou fascinada pelas palavras. Quando bem combinadas, expressam sentimentos, aproximam pessoas, divulgam idéias, comunicam. No entanto, nem sempre a linguagem é uma fonte de entendimento. Simples. Há uma lacuna - de tempo, de estado de espírito, de construções emocionais, enfim, de bagagem de vida - entre aquele que escreve e aquele que lê.

Desde que comecei meu blog, tenho pautado minha prestação de serviço pela ética, citando fontes, reproduzindo mais de um texto sobre o mesmo assunto, fornecendo endereços virtuais de pesquisa, dentre outros recursos. E quem quer que bata à porta da minha cozinha, encontra também gentileza, amorosidade, compartilhamento e, acima de tudo, um profundo respeito. Esta mesma conduta é seguida quando deixo comentários nos blogs que sigo. Fiz amigos queridos por intermédio deste espaço democrático e hoje as pessoas enviam contribuições, questionam, perguntam, colocam suas dúvidas, além de me alimentarem com seu carinho. Com os mais próximos, permito-me até algumas cutucadas, ou mesmo provocações, quando sinto que podem rever suas perspectivas. Afirmo, com tranquilidade, que sou piloto de teste de tudo que informo aqui e muito hábitos alimentares saudáveis já estão incorporados à minha vida diária e da minha família há muitos anos. Sei que pessoas já se beneficiaram com mudanças no seu sistema alimentar e fico feliz. O fato de ter sido acometida por uma doença grave produz uma certa confiabilidade e a sensação de acolhimento naqueles que também estão enfrentando suas lutas pessoais.

Reconheço que os médicos ainda não creditam à alimentação a responsabilidade por muitos dos males modernos, nem a possibilidade de preveni-los, ou mesmo evitar sua progressão quando já instalados. Eles se sentem mais confortáveis seguindo seus protocolos, confiando nas drogas disponíveis, nos tratamentos padronizados, o que representa segurança para seus pacientes, mas também para eles mesmos, caso alguma intercorrência mude o rumo dos resultados esperados, sejam eles bons ou ruins. É que sua área de conhecimento é medicina. Nutrição também faz parte do campo da saúde, mas o profissional é outro - nutricionista, ou nutrólogo. E no seu domínio, há pesquisa consistente sobre a função dos alimentos, que talvez os médicos não conheçam. Ainda. Assim como psicólogos e terapeutas são igualmente profissionais da saúde e possuem ferramentas bem fundamentadas para cuidar da mente e das emoções humanas. Quem abre seu leque de recursos no cuidado com a própria saúde tem maiores possibilidades de sucesso.

O impressionante Dr. David Servan-Schreiber - ele de novo! -, neurocientista diagnosticado com um câncer de cérebro agressivo e com prognóstico de sobrevida de 6 semanas, acabou aumentando seu tempo no planetinha azul em 19 anos, como já disse aqui. Porque foi corajoso o suficiente para produzir mudanças em sua vida pessoal, com base em um tripé que faz bem para todo mundo: alimentação saudável, atividade física e estado de espírito de qualidade.

Hoje escolhi abordar aqui o aspecto das emoções e do estresse. Particularmente, não acredito em resignação. Quem está lutando contra uma doença, com certeza não está resignado. Por vezes, para proteger seus amados do sofrimento, pessoas fingem uma serenidade que não estão sentindo. Qualquer um sabe que emoções reprimidas resultam em doenças, ou as agravam. Segundo o meu sistema de crenças, algumas coisas não temos como mudar: fazem parte de um projeto reencarnatório com o qual nos compremetemos. Entretanto, sobre outras tantas situações podemos atuar pró-ativamente. Há cansaço, há dor, há desânimo, há raiva e cada um conhece o seu limite, até onde sustentar a luta. Todas essas emoções são legítimas e devem ser vividas, até que esvaziemos nossas almas. Mesmo as que não são socialmente aceitas, ou que nos causam vergonha. Quem sofre não pode escamotear seus medos, sua exaustão, sua dificuldade de enfrentamento. Ficar doente não é lindo, não é agradável e não traz ganho psicológico duradouro, por mais que as pessoas fiquem nos dizendo aquilo que aparentemente desejamos ouvir. É mais saudável expressar o que estamos sentindo e focar no sentido da vida, como nas palavras do Dr. Servan-Schreiber: " Aprender a lutar contra o câncer é aprender a nutrir a vida dentro de nós. Mas não é obrigatoriamente uma luta contra a morte (que é o que os médicos se sentem na obrigação de fazer conosco, grifo meu). Ter êxito nesse aprendizado é chegar a tocar na essência da vida, encontrar uma completude e uma paz que a tornam mais bela. Pode acontecer de a morte fazer parte desse êxito. Há pessoas que vivem suas vidas sem apreciar seu verdadeiro valor. Outras vivem a própria morte com uma tal plenitude, uma tal dignidade, que ela parece ser a realização de uma obra extraordinária e dar um sentido a tudo que viveram. Preparando-se para a morte (independentemente de estarmos doentes, ou não, grifo meu), libera-se a energia às vezes necessária à vida. É preciso começar desarmando o medo."

Ao postar aqui, ao falar do que falo, ao comentar os posts dos amigos, estou focada na vida, esta aventura extraordinária que se renova a cada amanhecer.

Um abraço verdadeiro, cheio de respeito e compaixão.

P.S.: Havia esquecido e voltei para dizer: continuo acreditando firmemente em milagres, bem como no avanço da pesquisa científica.

3 comentários:

Bloguinho da Zizi disse...

Angela
Maravilhosa a tua postagem.
Saber tirar o melhor de tudo até de um câncer é pra pessoas com uma força espiritual muito grande.
Uma vez uma pessoa se queixou com outra dizendo que estava no fundo do poço, quando a outra lhe respondeu - fique quieta, só quem chega ao fundo do poço prova da água mais pura, mais cristalina e mais fresca que existe.
São exemplos assim que temos que seguir.
Gratidão Angela
beijinhos

Regina Rozenbaum disse...

Angelinha amaaada!
Vim ontem, li e por escutar um certo tom de brabeza/desabafo (pertinente e identificado) fui para deixar assentar, retornando hoje. Sabe que meus instrumentos de trabalho são a escuta e a palavra. Interpretar um texto (escrito ou ouvido) é, para mim, até hoje, tarefa árdua. Requer uma escuta afinadíssima que nem sempre estamos aptos. Aqui nesse espaço então, nem se fala... E somos constantemente traídos (eu me sinto) pelo que sabiamente escreveu: “tempo, estado de espírito, construções emocionais, enfim, de bagagem de vida”. Lembrei-me de Lacan e o que ele nos ensina sobre a interpretação e os três pontos que devemos objetivar: o significado; fazer aparecer significantes que estavam ocultos; e a interpretação do “dizer”, e não dos “ditos”. Fica evidente que a interpretação deve ir além “do que se diz”. O que cabe ser interpretado não são os ditos do sujeito, mas “o dizer”.
Já se foi o tempo que respondia a cada comentário... A não ser quando se faz absolutamente necessário! Dando nome aos bois, pois nem sempre a máxima “que para bom entendedor pingo é letra” acontece!rsrs
Quanto ao seu respeito, ética, amorosidade em cada postagem e/ ou comentários nos espaços amigos preciso acrescentar algo??? Então digo: transparente e iluminado! E dos quais não abro mão de jeito nenhum e de nenhum jeito, visse???!!! Peço desculpas pelo tamanho desse comentário rsrs, mas você é uma excelente ouvidora.
Beijuuss, iluminadamada, n.a.
P.S: me deu uma vontade de acrescentar uma coisinha de meu papis... posso? Onde me querem muito eu vou pouco... onde me querem pouco vou nada(coisas polonesas de ser)!

Cancer de Mama Mulher de Peito disse...

"Somente a mente atenta nos permite viver de uma maneira profunda, tocando as maravilhas da vida, para que cada momento possa ser um momento de cura, de transformação e de nutrição."
Thich Nhat Hanh
bjs.
Wilma
www.cancerdemamamulherdepeito@blogspot.com