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DEVAGAR TAMBÉM NO CORPO
Levar em conta as emoções do corpo também é fundamental, garante a pesquisadora Eliane Volchan, do Instituto de Biofísica da UFRJ. Ela comprova com pesquisas que coordena com níveis de hormônio na saliva, batimentos cardíacos, respiração e sudorese de voluntários, que o fato de se racionalizar o estresse - entender que trabalhar muito é necessário ou que a violência é inerente à vida humana - pode acalmar a mente, mas não impede que o corpo continue a reagir de maneira implícita. Sem que a pessoa "saiba", as taxas de adrenalina, a frequência cardíaca e as dificuldades respiratórias vão alterando o metabolismo, minando o sistema imunológico e pronto: doença grave a vista!
Para médicos e terapeutas especializados em tratamento do estresse, há medidas que desaceleram e melhoram a qualidade de vida. No ranking dessas atividades, eles destacam a meditação (estudos feitos na Universidade Harvard, pelo cientista Herbert Benson, mostraram que meditar libera endorfina, analgésico natural e reduz a hipertensão, a insônia, a enxaqueca), a prática de atividade física, o contato com a natureza, um maior convívio com a família e os amigos, o lazer e até mesmo o ócio (criativo, por exemplo, criando imagens mentais, grifo meu). Técnicas de biofeedback e fitoterápicos também ajudam.
O Brasil já está dando os primeiros passos para viver em marcha lenta: há patrões que dão programa para seus estressados relaxarem no trabalho; o criador do método Self Healing (Autocura), Meir Schneider, foi ao Rio para um trabalho com empresas: ensinar os funcionários a, no meio do estresse, desacelerarem, darem uma pausa, para voltarem a produzir mais e melhor, sem prejudicarem a saúde e o bem estar.
Para Meir Schneider, o ritmo acelerado de vida leva também ao pouco descanso. E o repouso - do corpo e da mente - é fundamental. Para compensar, as pessoas tomam drogas, exercitam-se de maneira errada, compulsivamente, e vivem de estimulantes.
Antigamente as pessoas dormiam de acordo com as estações do ano. Repousavam mais no inverno e menos no verão. Agora todos ignoram seu relógio interno. O estilo de vida errado não deixa a pessoa perceber que o corpo está cansado. Repousar é preciso, seja meditando, dormindo, deitando-se na cama, sem ler, e fazendo o palming, comenta ele, referindo-se a uma técnica eficaz contra o estresse, que consiste em cobrir os olhos com as duas mãos, sem pressionar, imaginando escuridão total.
Para os especialistas em tratamento de estresse, não há uma fórmula universal, mas alguns métodos mostram-se mais eficazes. No ranking das preferências, a meditação, o exercício e o lazer.
Meditar e se exercitar são ótimos para desacelerar e reforçar a imunidade. Mas cada um tem a sua preferência. Caminhar na natureza e manter o convívio social têm bom efeito. "Há fitoterápicos que aumentam a capacidade de suportar o estresse, como o ginseng e a rodiola rósea" explica o médico Alex Botsaris, autor de "O Complexo de Atlas" (Objetiva), que mostra como lidar com o estresse. (O Complexo de Atlas tem esse nome porque o deus Atlas carregava o mundo nas costas, numa alusão ao fato de as pessoas carregarem fardos maiores do que dão conta, grifo meu).
O terapeuta Alexandre Von Ajs prefere as massagens para diminuir o ritmo. "Também o tai chi chuan e a meditação com mantras desaceleram", recomenda.
Para a terapeuta Marion Kelson, é fundamental trabalhar a concentração e a percepção corpórea, pois cada um tem uma necessidade. "Pode ser uma dança, uma massagem ou um banho de ofurô", exemplifica. (Quem se interessar, busque na internet informações sobre técnicas de Consciência Corporal, grifo meu).
DESACELERAR É DIFÍCIL
Carl Honoré, o jornalista que escreveu "Devagar - Como um movimento mundial está desafiando a cultura da velocidade" (Editora Record), que se tornou best seller, reconhece que a velocidade é uma droga do nosso tempo. Aceleramos por um vício do corpo, para evitar pensar sobre questões profundas e porque ser rápido é sinônimo de prestígio na nossa cultura. Então desacelerar é difícil.
"Uma ironia é que nós somos tão impacientes hoje que queremos até desacelerar rápido! Leva tempo", evidencia. "Mas quando você percebe que velocidade não é sempre bom, que muito da nossa pressa não faz sentido (como correr para chegar mais rápido ao sinal de trânsito vermelho), então é possível ir mais devagar", complementa. Para quem quer tentar, ele enumera uma série de atitudes necessárias. A primeira é eleger prioridades na vida profissional e pessoal - não dá para fazer tudo de uma vez, e é preciso aceitar isso. Dessa forma, sobra tempo para se concentrar no que é importante.
Quando estamos muito acelerados, comemos mal, não temos tempo para descansar, erramos no trabalho por causa da correria e perdemos relacionamentos por não darmos atenção suficiente a eles. "Viver devagar significa fazer tudo melhor e aproveitar mais. Você é mais saudável porque seu corpo tem tempo para descansar, mais produtivo no trabalho porque está relaxado, concentrado e mais criativo. E seus relacionamentos são mais fortes porque você pode dedicar sua completa atenção para as pessoas", defende Honoré.
Por que andar devagar se se tem pressa? Lothar I. Seiwert, autor do livro "Se tiver pressa, ande devagar", em parceria com Ann McGee Cooper, ressalta que o estressado perde a visão geral, cai no ativismo cego. A concentração vai para pequenos problemas, gastando tempo e energia. Com calma, podemos distinguir o que é ou não importante. Com calma, vamos, sim, trabalhar mais e ganhar tempo, porque nos concentraremos no essencial. A concetração é o segredo da vida mais relaxada.
"Quando a vida é acelerada, há uma falta de equilíbrio entre necessidades profissionais e desejos pessoais. Não há tempo para dedicar a amigos, família e pequenas coisas que fazem a vida valer a pena" destaca ele. E continua: "Aprenda a gastar conscientemente o seu tempo. Vá devagar no seus dias, permita-se pequenas pausas. Tire o relógio num momento de descanso. Passe o tempo com quem gosta."
Andar na contramão do tempo é perigoso. "A pressa é uma doença que a leva a males do coração, pressão alta, úlcera nervosa, tensão e até depressão profunda", frisa.
Boa matéria, não? Fico me lembrando dos pedreiros trabalhando em grandes e pequenas obras. O horário do almoço e da sesta são sagrados. Eles param, comem a marmitinha preparada em casa e chegam a dormir no chão, com a cabeça, às vezes, apoiada num tijolo. Por que não aprender com eles?
Comece por pequenas atitudes, tenha foco e vá fazendo da desaceleração uma conquista pessoal.
Bom descanso. Beijos.