domingo, 21 de março de 2010

Domingo

Domingo. Chuva miúda lá fora. Na cozinha, silêncio absoluto, descanso geral, que todo mundo merece. Domingo é dia de ficar de pernas para o ar, alimentando a alma e o coração, concorda?
O outono já chegou no hemisfério sul, mas um calor residual do verão ainda persiste por aqui. Ligada como sou na natureza, pensei em postar uns hai-kais hoje. Hai-kais (haiku, em japonês), para quem não sabe, são poemas curtinhos que expressam uma única emoção, ou ideia. Surgiram no século XVI, com Bashô, poeta japonês, como uma forma de expressão do simbolismo budista e taoísta. A partir deste formato, autores os mais diversos, inclusive alguns muito famosos, de outras nacionalidades, como Ezra Pound e outros membros do movimento imagista, passaram a escrever hai-kais. Os mais fiéis mantêm o vínculo original com a natureza.
Meu querido amigo José Luiz, professor de literatura, (foureaux.wordpress.com) presenteou-me com um livro lindo, chamado, muito apropriadamente, Nas Sendas de Bashô, com os poeminhas de um pessoal muito bom, da Universidade Federal de Ouro Preto.
Aí vão alguns deles:


Gosto que me enrosco
de todos doces gulosos.
Festa de criança.
Um sol preguiçoso
tira soneca na tarde
coberto de nuvens.
Fresta de janela
mostra nuvens passeando...
Sonho prisioneiro.
(Autor: J.B. Donadon-Leal)
Nas gotas de chuva,
em para-brisas de carros,
coreografias.
Jardins nas sacadas,
gerânios pela janelas:
poemas no ar.
Fundo de quintal
mostra abacates maduros.
Por que o cão de guarda?
(Autor: J.S. Ferreira)
Contemplando a lua,
um furo de luz no escuro,
minh'alma flutua.
Seca, a folha cai
tão leve: que o vento a leve
aos céus de um hai-kai.
Vai florir hai-kai.
Bashô sobre mim baixou:
- Xô!, beija-flor, sai!
(Autor: Gabriel Bicalho)
Dizem sol e chuva
casamento de viúva.
Águas de verão.
Nuvens emplumadas
sem dó despejam do céu
um chão de granizo.
Paredão de pedra
no costado do Caraça;
broto de bromélia.
(Autora: Andréia Donadon Leal)
Uma delícia, não? Viciante... Já tentei escrever alguns... Tente você também!
Bom domingo. Até amanhã!
Em tempo: de acordo com meu amigo, faço cá uma correção: no lugar de 'pessoal muito bom da UFOP', leia-se 'pessoal muito bom do Aldravismo, em Mariana'.

sábado, 20 de março de 2010

óleo de oliva.com/the end

Difícil parar de falar de azeite extravirgem e azeites em geral, dada a versatilidade deste óleo e o sabor especial que adiciona aos alimentos. Além do valor agregado: saúde!

Como existe muita pesquisa e informação a repassar aqui, vou abordando um pouco de tudo e, se alguém quiser saber mais, solicite. O prazer é todo meu.

Vivo atenta às sicronicidades em minha vida. Interessante: esta semana estava na casa de uma amiga e havia uma Bíblia aberta no balcão... da cozinha! Curiosa, fui ler a página e encontrei a parábola do bom samaritano, que usou azeite para curar as feridas de um homem que fora assaltado e abandonado. Mais uma: no consultório de minha terapeuta, peguei, ao acaso - será? - uma revista Veja de 3 de março deste ano e havia também uma matéria curtinha sobre o azeite e seus outros usos. É assim: estou empenhada em um projeto e as notícias vão chegando.

Sabe-se que os mais diversos povos vêm usando esse óleo maravilhoso há milênios para as mais variadas finalidades. Substância completa, graças aos polifenóis, o azeite era considerado como um líquido múltiplo e milagroso. Suas propriedades medicinais faziam dele remédio para as feridas dos guerreiros e doentes - bem mais tarde, descobriu-se que a azeitona tem o mesmo princípio ativo da aspirina, daí o seu efeito analgésico. Utilizado também como combustível, alimentava as lamparinas e fazia parte de rituais religiosos, simbolizando a preservação dos dons divinos. Espanha, Grécia e parte da Itália elegeram o azeite puro de oliva para simbolizar a fartura. Quer abundância maior do que uma vida longa e saudável? Antigamente, nesses países, havia o costume de iniciar o dia tomando um cálice de extravirgem para a manutenção da saúde perfeita. Muitos séculos antes da passagem do Cristo sobre o planeta, a costa da Espanha já era coberta por oliveiras. E até os dias de hoje os espanhóis são os maiores produtores mundiais da azeitona, matéria-prima para a fabricação do azeite.

Óleo de oliva, por si só, já é uma preciosidade. Em saladas, no preparo de molhos, acompanhando massas, ele torna tudo mais saboroso, digestivo e perfumado. Assim como fiz com o vinagre, vou sugerir aqui duas receitinhas simples de azeite temperado - há muitas mais! - para você experimentar, inclusive, no pão nosso de cada dia. São receitas encontradas no site cybercook, que já testei e aprovei. Ambas pertencem à culinária francesa. Minha sugestão: escolha um recipiente de vidro bonito, porém escuro, para preservar os polifenóis. Esterelize com cuidado, lavando e escaldando com água fervente. Escorra bem.

AZEITE COM NOZES
Ingredientes
10 unidades de nozes sem casca e lavadas para tirar os resíduos
400 ml de azeite extravirgem
100 ml de óleo de milho
Modo de preparo
Coloque as nozes em um recipiente esterelizado e derrame o azeite e o óleo por cima. Tampe bem e aguarde 2 meses para consumir. Guardar em local fresco e ao abrigo da luz.

AZEITE PROVENÇAL
Ingredientes
Alecrim seco a gosto
Tomilho seco a gosto
Manjericão seco a gosto
Casca bem tirada de uma laranja - lave bem
500 ml de azeite extravirgem
Modo de preparo
Coloque as ervas e a casca de laranja em um vidro esterelizado. Aqueça um pouco o azeite em fogo baixo- sem ferver! Coloque o azeite no vidro tampe bem. Aguarde uns dias para incorporar o gosto. Dura aproximadamente 3 meses, guardado na porta da geladeira.
Sucesso nos preparos! Bom apetite! Saúde!

Site: http://www.cybercook.com.br/

sexta-feira, 19 de março de 2010

óleo de oliva.com/mais receitas

Uma das coisas que mais me dá prazer por viver parte significativa do meu tempo no sítio é porque ali estou afinada com os ciclos da natureza. Que são os ciclos da vida. Fico mais sensível, mais atenta e me deixo guiar pelos mínimos sinais.
Outro dia aconteceu uma coisa interessante: cheguei à cozinha às 5h da manhã e uma fileira de formiguinhas pretas, chamadas correição, havia invadido o lugar. Quando elas aparecem assim, organizadas em fileira, vem muita chuva por aí. Então, basta que você elimine algumas no meio da fila para que elas se desorientem, abandonem o lugar e se reorganizem em outro local.
Mais tarde, quando fui fazer um bolo, que leva azeite com um dos ingredientes, ao virar a lata no copo de medida, tive dificuldade para fazer o óleo passar pelo buraquinho aberto. Insistindo um pouco, comecei a ver um fio de óleo correndo para o recipiente com um montão de formiguinhas vindo junto. Caí na risada: um inseto tão pequeno que 'conhece' tão bem a riqueza alimentar do azeite é lição das boas. Ele é um alimento doce e também muito nutritivo e, de alguma forma, a correição sabe disso. Fiz meu bolo - sem formigas, claro! - e agora passo a receita para você. Um detalhe: a receita original está em um livro muito interessante, que ganhei de presente há alguns anos. Chama-se A saúde vem da cozinha, de Lydia Siqueira, uma senhora adventista, vegetariana e que também gosta muito de cozinhar. Acontece que a minha receita atual difere bastante da original, porque gosto de experimentar outras possibilidades, sempre atenta à saúde. Aí vai:
BOLO DE CENOURA
Ingredientes:
3 cenouras médias, descascadas e raladas (ou processadas)
3 ovos inteiros
3/4 de xícara (chá) de azeite (não precisa ser extravirgem, mas que seja de boa qualidade)
1 xícara (chá) de açúcar mascavo
1 pitada de sal
1 xícara (chá) de farinha de trigo branca (tipo 1 ou especial) peneirada
1 xícara (chá) de farinha de trigo integral fina peneirada
2 colheres (sobremesa) bem servidas de fermento em pó
Nozes picadas e passas (opcional)
Modo de preparo
Bater no liquidificador as cenouras raladas, os ovos, o óleo, o sal e o açúcar mascavo (prefiro este açúcar ao cristal, ou refinado, porque é mais doce e podemos usar menor quantidade). Reservar. Em uma vasilha a parte, colocar as farinhas, peneirando-as com uma peneira fina.
Derramar o líquido batido por cima e misturar bem, até obter uma massa homogênea. Agregar delicadamente o fermento (e as nozes picadas e passas) à mistura. Colocar essa massa em uma forma redonda, untada com manteiga e enfarinhada. Levar para assar em forno alto pré-aquecido, na prateleira superior, por cerca de 30 min, ou até que fique dourado. Minha sugestão: após os primeiros 20 min de forno, manter a temperatura alta, mas colocar um tabuleiro na prateleira inferior para que não toste por baixo e cresça bem. Tem dado certo.
Para quem gosta de bolo, esta é uma receita simples, saudável, cheirosa e bonita - porque se come primeiro com a visão e o olfato, não é verdade? Só não vale exagerar, porque carboidrato engorda e eleva a taxa de triglicérides no sangue. Para os celíacos, que não podem ingerir gluten, substituir a farinha de trigo por outro tipo de farináceo sem a proteína, e o açúcar por adoçante, o que vale também para os diabéticos. Garanto que a receita não perde nada em gostosura. Dispensa até a tão comum cobertura de chocolate.
No próximo post trarei receitas de azeite temperado, combinado? Até lá!

terça-feira, 9 de março de 2010

óleo de oliva.com

Azeite é bom com quase tudo, mes amis! Como hoje estou só de passagem pela web, já voltando para o sítio, vou deixar aqui apenas uma receita, muito chic por sinal, para dias especiais e convidados idem. Uma receita para receber, com pompa e circunstância. É muito fácil de fazer e mesmo quem nunca se arriscou a preparar um pão, e quiser tentar, vai ficar feliz com o resultado, bonito e cheio de sabor. E, de quebra, ganhará, certamente, muitos elogios por sua habilidade e bom gosto. Há alguma coisa de mágico na mistura dos ingredientes, no trabalho da massa e em toda a feitura de um pão; estou convidando você a experimentar. Voilà!

Elioti (pão de azeitonas)
Você vai precisar de:
4 xícaras (chá) de farinha de trigo especial ou tipo 1; 1/2 xícara (chá) de azeite de oliva extravirgem; 3 colheres (chá) de fermento em pó; 1 xícara (chá) de leite de cabra; 1/2 xícara (chá) de azeitonas pretas sem caroço; 1/2 xícara (chá) de cebola picada; 1 colher (chá) de hortelã fresca picada fina.
Como preparar: misture farinha, fermento e hortelã em uma vasilha e reserve. Refogue a cebola e as azeitonas levemente no azeite (o segredo é que o azeite fique o menor tempo possível no fogo, para preservar sua qualidade). Deixe esfriar e acrescente a mistura da farinha. Adicione o leite e trabalhe a massa com as mãos - a melhor parte! - até que fique homogênea e elástica. Deixe descansar por cerca de uma hora (até dobrar de tamanho). Uma sugestão minha que dá certo: abafar a massa na vasilha com um pano e colocar dentro do forno apagado. Em seguida, pré-aqueça o forno e asse em fogo alto até que fique crocante e dourado.
Esta delícia acompanha queijos e vinhos.
(Receita de Márcia Frazão, escritora dedicada às artes da magia 'do bem')

Vem mais por aí... Bom apetite! Dúvidas? Deixe sua pergunta num comentário.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Arrumação

É preciso varrer a casa, espanar os móveis
e refazer as camas.
É preciso incensar as salas
e temperar a cozinha,
preciso é vestir a mesa de renda
e de sol as janelas,
deixar o sol entrar e o mofo sair.
É preciso arrumar a casa que o amor vem aí.

Preciso é tomar banho e se perfumar,
vestir de domingo e esperar na porta;
nas mãos as flores do dia,
ou as lamparinas da noite.
É preciso vigiar, vigilar dia e noite
o amor que cheira no incenso da sala
e no tempero da cozinha.
É preciso arrumar a casa que o amor está aí.
(Wânia Amarante em QUARTO DE COSTURA)

Mulheres são especialistas nas artes e alquimia da cozinha e do amor. Que o diga Isabel Allende, em sua beleza de livro Afrodite. É preciso resgatar esta magia, esta delicadeza, mesmo em meio a uma rotina atribulada e cheia de outros convites, alguns deles igualmente saborosos. Meu abraço carinhoso no dia internacional da mulher, que se aproxima.

O que os povos do Mediterrâneo ensinam

Falávamos de uma dieta que nada tem de 'milagrosa', mas que demonstra, de fato, retardar as mazelas do envelhecimento. Está aí, nos livros, nas revistas, nos jornais, na tv, no google: a culinária mediterrânea.
E a estrela de primeira grandeza naquele canto do mundo é... o azeite extravirgem! Que, embora na moda, ainda é um ilustre desconhecido para muitos. Afinal, o que significa extravirgem?
Esse azeite é um óleo nobre resultante da primeira prensagem de azeitonas selecionadas - pressão física. Ou seja, não passa por qualquer processo de refino, conservando sabor e aroma peculiares. Suas cores, por excelência, são o verde e o dourado e seu grau de acidez não deve ultrapassar 1%. Um segredinho: quanto mais jovem (data de fabricação), melhor. Depois de aberto deve ser consumido em, no máximo, seis meses e ser conservado bem tampado e ao abrigo da luz. Tais cuidados visam preservar os polifenóis, substâncias responsáveis pelo brilho dessa superestrela. Eles são antioxidantes de ácidos graxos, ou seja, de gorduras, impedindo que se acumulem nas artérias e causem estragos no sistema cardiovascular. Além disso, os extravirgens são ricos em ômega 3, uma gordura (ácido graxo) 'do bem', que reduz os triglicérides, prevenindo os mesmos males.
Sabendo disso, sentimo-nos tentados a regar o prato com azeite extravirgem. Não é por aí.
Mesmo sendo uma gordura boa, ainda é uma gordura, portanto não se deve abusar. Temperança, sempre! Mas o óleo de oliva é um bom substituto para as gorduras saturadas. Por exemplo: podemos substituir a manteiga em vários preparos e mesmo no pão, com umas ervinhas para dar sabor.
Ficou com água na boca? As receitas vêm por aí. Até breve.

terça-feira, 2 de março de 2010

Inventando moda...

No sítio as quaresmeiras se dobram ao peso de tantas flores - lindas!; as goiabeiras, generosíssimas este ano, perfumam o ar, enquanto seus frutos, no tacho de cobre virando doce, perfumam a cozinha; o verde da mata atrás da casa é luxuriante e as borboletas, variadas, colorem o jardim, lembrando que ainda é verão, o "tempo das águas", como diz a gente do lugar, embora um ventinho frio, soprando pela manhã e à noite já sinalize que o outono vem por aí.


Em estado de contemplação, me pego pensando: qual o custo de uma vida longa? O que vale mais a pena: viver menos tempo na mais completa incontinência, abusando dos prazeres dos sentidos? Ou viver bons anos a mais, usufruindo dos mesmo prazeres com equilíbrio? Escolha difícil... A verdade é que a maioria de nós não tem qualquer pressa de deixar o planeta. Queremos viver muito, porque há - sempre! - 'tanta coisa a fazer, ainda'...


Todos sabemos que o acelerado progresso científico nos acena com uma expectativa de vida maior; isso quer dizer que viveremos mais, mas, não exatamente que permaneceremos jovens por mais tempo. A cirurgia plástica, cada vez mais sofisticada e detalhista, promete maravilhas - e cumpre! Entretanto, só arruma por fora. Por dentro, lamentavelmente, continua o processo, irreversível, de oxidação. E então? Queremos, sim, viver quantitativamente mais, porém, com qualidade, com prazer, enfim, com dignidade.


Está claro, hoje, que isso depende de uma combinação de fatores, uns controláveis, outros não. Segundo estudo conduzido por Jairo Mancilha, cardiologista, e Luiz Alberto Py, psiquiatra, e que virou livro, longevidade tem a ver com genética, fatores ambientais, aspectos emocionais e mentais e alimentação, não necessariamente nessa ordem.


Pois é: assim como os peixes também podemos morrer pela boca. Não por falta de informação. Afinal, na aldeia globalizada em que vivemos é possível conhecer - e experimentar! - hábitos alimentares saudáveis dos mais diversos povos e culturas.



Toda essa conversa vem por conta de uma dieta muito conhecida - e deliciosa! -, que já provou ser possível envelhecer bem, com elegância e capacidade preservadas: a dieta do Mediterrâneo. Mestre Guimarães Rosa disse que "espírito da gente é cavalo que escolhe estrada, quando ruma para o lado da tristeza e morte vai não vendo o que há de bonito e bom". Prefiro fazer outras escolhas. Mais saborosas.

Continua...

Para ler: Mancilha, Jairo & Py, Luiz Alberto. O caminho da longevidade: orientações para uma vida longa e saudável. Rio de Janeiro: Rocco, 2001